Já imaginou que pneus são feitos de areia e podem ser à prova de balas?
Por Carlos Barcha é especialista em pneus com 20 anos de experiência no setor automotivo, fundador e CEO da The Consulting Business Solutions e, também, Gerente Técnico da Michelin América do Sul. As opiniões e informações aqui expressas são pessoais e não refletem necessariamente o posicionamento destas empresas
Se uma pessoa chegasse até você dizendo que pneus são feitos de areia ou que podem ser à prova de balas, qual seria a sua reação? Daria risada do seu interlocutor, acharia que ele está brincando com a sua cara ou você ficaria intrigado para entender como tal afirmação poderia ser possível?
Seja qual for a sua reação, saiba que inovações constantes fazem com que cada vez mais materiais “inusitados” passem a compor as fórmulas e construções dos pneus para a mobilidade do futuro.
Já faz algum tempo, pneus com baixa resistência ao rolamento, característica que melhora o consumo de combustível do seu carro, ficaram comumente conhecidos como pneus verdes. O que você talvez não saiba é que tal evolução foi possível com a utilização de sílica, entre outras tecnologias, nos compostos de borracha.
E se você está se perguntando se esta sílica do pneu é a mesma sílica que se utiliza, por exemplo, na fabricação de vidros e é o elemento constituinte básico da areia, sim, você está certo! Obviamente, existem variações no processo de fabricação da sílica para uso na indústria de pneus que acaba por gerar um subproduto completamente diferente da areia, mas uma vez sílica, sempre sílica.
Cada vez mais comum em pneus que exigem alta resistência em ambientes hostis, o kevlar está presente nas carcaças de pneus off-road por conferir ao pneu essa resistência superior sem comprometer demais o peso da peça. O mesmo kevlar, e compósitos derivados, são utilizados na confecção de coletes à prova de balas.
Não, ao contrário da brincadeira no título, pneus com kevlar em suas estruturas não são resistentes a tiros, pois o kevlar é processado e utilizado de forma a aumentar a resistência contra impactos, não para ser imune à penetração de objetos.
Além destes dois exemplos curiosos, os principais fabricantes de pneus no mundo estão com a mente de seus centros de inovação e desenvolvimento totalmente aberta para, desde os compósitos de última geração criados em laboratório, até os elementos disponíveis na natureza mais banais.
Existem estudos avançados para utilização desde materiais high-tech como o polímero superelástico até cascas de frutas, de arroz e de ovo. E a lista não para por aí: ingredientes extraídos da madeira, óleos extraídos da Taraxacum officinale, comumente conhecida como dente-de-leão, entre várias outras soluções à primeira vista inimagináveis!
O avanço nas pesquisas de novos materiais, ou novos usos para o que até então julgávamos ser lixo, andam em paralelo com a aplicação da tecnologia de ponta, com sensores e chips, fará com que continuemos em frente na busca de pneus cada vez mais sustentáveis, reciclados e recicláveis.