A era das fusões no setor automotivo chegou aos fornecedores?
Não faz muito tempo, recebemos a notícia da fusão entre o Grupo PSA, detentora das marcas Peugeot, Citroën, DS, Opel e Vauxhall, e a FCA, dona das marcas FIAT, Jeep, Abarth, Alfa Romeo, Chrysler, Dodge, FIAT Profissional (IVECO e CNH), Lancia, Maserati e RAM, formando a gigante Stellantis que, de acordo com dados de 2019, será o quarto maior grupo do mundo na área automotiva.
Dias atrás, uma outra surpresa! A Goodyear Tire & Rubber Company anunciou um acordo para aquisição da Cooper Tire, quinta maior fabricante de pneus dos Estados Unidos. Após completado o processo, a Goodyear deverá solidificar-se como a maior fabricante de pneus da terra do Tio Sam, o que não é pouca coisa.
Fusões e aquisições acontecem até com certa frequência na economia livre e os objetivos comerciais são sempre os mais visíveis. Mas um olhar mais atento mostra que Stellantis e Goodyear – para ficarmos restritos apenas aos exemplos citados – estão inaugurando o que parece ser uma nova era em todo o setor automotivo cujo objetivo derradeiro é. …..sobreviver!
Não é de hoje que se espera uma onda de fusões entre os diversos grupos que controlam as montadoras de veículos. Especialistas chegam a cravar que teremos apenas sete gigantes respondendo por todas as marcas de veículos espalhadas pelo mundo.
Tal afirmação pode ser respaldada, além da busca incessante por lucratividade e ganhos de escala, pela corrida insana por inovação. A mobilidade do futuro, em seu âmago, é baseada em três ou quatro inovações-chave, onde aquele que chegar primeiro poderá confirmar suas projeções de lucro e retorno sobre os investimentos (que não são pequenos). Ao segundo e terceiro colocados, os prêmios de consolação e a façanha de fechar suas contas…
Mas, a partir daí, tornar-se-á virtualmente impossível aos grupos que perderem esta corrida conseguir recuperar os rios de dinheiro investidos em pesquisa e desenvolvimento. O resultado? Saúde financeira frágil e, ao sinal de qualquer marolinha na economia global, a impossibilidade de reação e uma inevitável crise que tende a resultar em falência. E assim fecharíamos o ciclo com as previsões de fusões em cascata para as montadoras de veículos se confirmando.
Mas e o caso Goodyear-Cooper? O cenário acima descrito seria válido também para fornecedores? A resposta é sim! E vou mais além: não apenas para os fabricantes de pneus…
Tanto é verdade que tivemos anos atrás um exemplo no segmento de rodas de aço e de liga que pareceu ser um ponto fora da curva: o Grupo Maxion realizou uma série de aquisições e tornou-se praticamente o único player global na fabricarão de rodas, deixando as áreas de compras de várias OEM de cabelos em pé.
Assim como a explicação para as fusões de montadoras, a corrida de todos os fabricantes de pneus na busca dos mesmos objetivos de performance fará com que apenas um ou dois consigam transformar os investimentos em resultados positivos, ficando os demais com uma bela fatura para ser paga…
E, no caso dos pneus, temos uma variável adicional na nossa equação: o mercado de reposição. Consolidar-se neste mercado pode ser a carta coringa que salvará o fabricante que, porventura, não consiga vencer a corrida pelo pneu do futuro.
Obviamente, a análise acima não é técnica e possui várias simplificações. Conforme a mobilidade do futuro se mostra diante de nós, várias alternativas se desenharão e os cenários podem sofrer sensíveis variações.
Mas vamos aguardar o desenrolar dos fatos e as cenas dos próximos capítulos para confirmarmos as tendências e apostas feitas aqui, pensando em como podemos antecipar os perigos e os desafios da inovação e do pioneirismo.
Carlos Barcha é especialista em pneus com 20 anos de experiência no setor automotivo, fundador e CEO da The Consulting Business Solutions. As opiniões e informações aqui expressas são pessoais e não refletem necessariamente o posicionamento destas empresas.