Ignorar problemas nos sistemas de suspensão e direção e aplicar pneus novos traz muita dor de cabeça
O dono decide trocar os pneus de seu carro. Ele compra 4 pneus novos, põem estes na mala e parte para uma oficina. Após montar os pneus e balancear as rodas conforme solicitado pelo dono, o profissional da oficina analisa o carro e diz que, para que seja possível realizar o alinhamento, é necessário substituir um ou mais componentes dos sistemas de suspensão/direção.
A dúvida dos donos é sempre a mesma: Será que isso é realmente necessário ou estão tentando me enganar?
Dentre diversas funções, os sistemas de suspensão e direção, trabalhando em conjunto, mantém os pneus em constante contato com o solo, proporcionam conforto, segurança e estabilidade e permitem, obviamente, o controle direcional do veículo, tudo isso nas mais variadas condições de rodagem.
Para que todas essas funções sejam eficientemente desempenhadas, os sistemas de suspensão e direção são cuidadosamente projetados e rigorosamente testados, sendo seus componentes dispostos em posições e ângulos bem definidos. Naturalmente, para que esses sistemas trabalhem exatamente como se espera, todos os componentes, fixos e móveis, tem que estar em perfeito estado e regulados. Essa verificação e eventual correção dos posicionamentos é feita, periodicamente, através do serviço de alinhamento/geometria do carro.
Como é de se imaginar, a suspensão do carro sofre demais nas vias do Brasil.
É asfalto ruim, buraco pra todo lado, lombada surpresa, enfim, as vias brasileiras estão longe das condições ideais. Nesse cenário, os componentes dos sistemas de suspensão e direção sofrem muito, o que faz com que seja razoavelmente comum ter que efetuar manutenções nesses sistemas com quilometragens tidas, em outros países, como baixas.
Ignorar a presença de problemas nos sistemas de suspensão e direção e prosseguir com a aplicação de pneus novos só traz consequências negativas.
Um amortecedor sem ação, por exemplo, fará com que o pneu seja basicamente espancado, pela ação desordenada da mola, contra o solo. Nessa condição, o pneu apresentará vários pontos desgastados distribuídos por toda a banda de rodagem.
Componentes da suspensão e da direção desgastados também podem provocar, por exemplo, alterações nos ângulos de cambagem e de convergência/divergência.
De forma simples, o ângulo de cambagem é o ângulo que a roda faz com a vertical.
Se a roda ficar com um ângulo de cambagem excessivamente positivo, a parte externa da banda de rodagem do pneu vai se desgastar mais intensamente.
Por outro lado, se a roda ficar com um ângulo de cambagem excessivamente negativo, a parte interna da banda de rodagem do pneu vai se desgastar mais intensamente.
Ambas as condições não são desejáveis, pois provocam um desequilíbrio no desgaste do pneu, abreviando sua vida útil.
O ângulo de convergência/divergência, de forma simples, é o ângulo que a roda faz com o eixo longitudinal do carro.
Para entender isso, basta pensar da seguinte forma:
Imagine que você possa apagar todo o carro com exceção das rodas, que permaneceriam exatamente na mesma posição em que estavam no carro.
Se ao rolar essas rodas para a frente elas forem se aproximando, significa que elas estão convergentes. Já se ao rolar essas rodas para a frente elas forem se afastando, significa que elas estão divergentes.
Um ângulo de convergência/divergência excessivo faz com que o pneu seja arrastado no chão, provocando um desgaste irregular na banda de rodagem deste e, consequentemente, também abreviando sua vida útil.
Em síntese, é absolutamente normal que os componentes dos sistemas de suspensão e direção se desgastem, ainda mais quando eles estão submetidos às condições das vias brasileiras. Portanto, se o profissional, no momento da troca dos pneus, identificou e lhe mostrou problemas em componentes desses sistemas, substitua-os.
Caso contrário, além de não aproveitar tudo que os pneus novos podem oferecer, visto que os sistemas de suspensão e direção avariados não permitirão isso, você ainda os verá se desgastarem de forma irregular, o que reduz a vida útil deles.
Em resumo, você vai gastar dinheiro e não vai ter pleno funcionamento nem segurança total em nenhum desses sistemas.
Frederico Padrão é o criador do canal “Mecânica Descomplicada” no YouTube, que hoje já conta com mais de 100.000 inscritos. Desde 2015, Frederico se dedica a explicar de forma simples e sempre bem ilustrada o funcionamento de sistema automotivos, traz dicas sobre manutenção, informações sobre equipamentos, além de dicas e curiosidades.