O pneu “acostuma” a trabalhar em um sentido de rotação?
Em diferentes oportunidades, ao ir a um auto center para fazer o rodízio dos pneus, fui informado de que não era interessante passar as rodas com os pneus montados de um lado do carro para o outro. A explicação dada era a de que, com o tempo, o pneu “acostumava” a rodar em um sentido de rotação. Sendo assim, caso colocasse a roda do outro lado do carro, para trabalhar em um sentido de rotação diferente do anterior, os pneus poderiam fazer surgir barulhos, vibrações, dentre outros problemas.
Em alguns casos as argumentações eram mais elaboradas e envolviam a estrutura interna do pneu. Nessa linha, era alegado que a estrutura interna do pneu se “acomodava” de forma permanente quando este trabalhava em um sentido de rotação, sofrendo os esforços relacionados ao seu uso.
Será que isso procede? O pneu de fato se “acostuma” a rodar em um sentido de rotação? A estrutura interna deste se deforma de maneira permanente e se acomoda, não permitindo, sem prejuízo, que o pneu gire no sentido contrário?
A resposta para essa pergunta é não.
Quando se alega que o pneu se “acostuma” a girar em um sentido de rotação, leva-se em conta única e exclusivamente os esforços sofridos pelo pneu quanto este é acelerado, tracionado sobre o solo, esforços esses que são impostos ao pneu sempre da mesma forma, com as mesmas características e direções.
A questão é que o pneu sofre esforços com características opostas a estes quando o carro está sendo freado, de forma que não há uma predominância de um único tipo de esforço imposto ao pneu.
Quando o carro está sendo acelerado, o pneu sofre esforços em um sentido. Quando o carro está sendo freado, o pneu sofre esforços, de forma simples, no sentido contrário.
Sendo assim, não é razoável alegar que o pneu se acostuma a trabalhar em um sentido de rotação por sofrer um alegado esforço permanente e exclusivo, haja vista que esforços com características contrárias estão igualmente presentes.
Quando o pneu está montado no aro do lado esquerdo do carro, ele sofre esforços em aceleração em um sentido “1” e esforços em frenagens em outro sentido “2”. Quando a roda é passada para trabalhar no lado direito do carro, tendo seu sentido de rotação invertido, o pneu passa a sofrer esforços de aceleração no sentido “2” e esforços em frenagens no sentido “1”, o que não representa qualquer problema.
Conclusão: Não há problema algum em inverter o sentido de rotação do pneu e, portanto, fazê-lo não provocará qualquer tipo de problema (ruído, vibração, etc).
Vale ressaltar que a inversão do sentido de rotação do pneu no carro deve respeitar o tipo de banda de rodagem deste. No caso de pneus direcionais, por exemplo, não é possível transferir uma roda do lado esquerdo do carro para o lado direito (e vice-versa), pois isto faria o pneu direcional trabalhar no sentido contrário do especificado. Nesses casos, caso se queira trocar a roda de lado no carro, deve-se desmontar o pneu do aro e remontá-lo na posição correta para que, ao fim, este gire no sentido de rotação especificado pelo fabricante.
Frederico Padrão é o criador do canal “Mecânica Descomplicada” no YouTube, que hoje já conta com mais de 100.000 inscritos. Desde 2015, Frederico se dedica a explicar de forma simples e sempre bem ilustrada o funcionamento de sistema automotivos, traz dicas sobre manutenção, informações sobre equipamentos, além de dicas e curiosidades.