Eletricidade x Combustão: a briga continua
Por Carlos Barcha*
Um dos rounds deste embate de gerações tecnológicas passa, sem dúvidas, pela questão da eficiência. E de acordo com uma nova metodologia criada pela Associação Brasileira de Engenharia Automotiva (AEA), o carro elétrico é 10 vezes mais eficiente que carros com motor a combustão interna abastecidos com combustível fóssil.
Mas essa supremacia seria suficiente para liquidar essa fatura? E indo mais além, essa supremacia elétrica existe mesmo?
Há diferentes maneiras de medir o impacto do uso de um automóvel em relação ao aquecimento global e a conta da AEA considera a média de eficiência energética dos automóveis participantes do programa de etiquetagem veicular do Inmetro.
Para especialistas, a melhor maneira de calcular a emissão de um automóvel é somando os gases que o veículo emite pelo escapamento mais o impacto que a produção do seu combustível provoca no meio ambiente. É a famosa equação “do poço à roda”.
E é interessante observar que essa equação mostra uma oscilação de um mesmo veículo em diferentes mercados devido a matriz energética, que é diferente de país para país.
No Brasil, por exemplo, a gasolina conta com até 27% de etanol em sua composição e existem carros que podem rodar apenas com o combustível vegetal. Outro fato é que 84% da energia elétrica vem de fontes renováveis, como a hídrica, a solar e a eólica.
Por termos uma matriz energética das mais “verdes” no mundo, o carro elétrico é sim uma opção mais sustentável que o carro híbrido e ainda mais que o carro com tecnologia flex.
Mas, infelizmente, o Brasil não é protagonista no cenário de desenvolvimento técnico e da inovação no mundo automotivo, tampouco é um mercado grande o suficiente para ser referência mundial e, considerando a tal equação “do poço à roda” em escala global, a Toyota não deveria ter surpreendido tanto a indústria ao anunciar sua decisão de aumentar a eficiência dos motores à combustão.
Não é de hoje que a gigante japonesa vem “remando contra a maré” da eletrificação focando seu portfólio em soluções híbridas e no desenvolvimento de motores movidos pelo hidrogênio, apesar de oferecer modelos elétricos com o objetivo de manter e atrair mais investimentos.
Baseando-se nos conceitos aplicados na Fórmula 1 atual e de olho nos estudos da categoria para o novo regulamento de 2026 em termos de eficiência, potência e fricção dos motores, além do uso de combustíveis sintéticos, a Toyota promete surpreender todos os críticos do seu “conservadorismo” montando uma estratégia que visa dominar o setor de veículos sustentáveis e jogar para escanteio todas as demais montadoras que estão eletrificando seus portfólios futuros.
Aproveitando a analogia do começo do artigo, esse movimento da Toyota me faz lembrar do filme Rocky, que depois de dado como derrotado, vira e vence a luta de forma inacreditável.
Se você acha que o embate entre eletricidade e combustão já está decidido para um dos lados, recomendo que reconsidere sua posição…
* Carlos Barcha é especialista em pneus com mais de 20 anos de experiência no setor automotivo e criador do Método Barcha