Borracheiros barraqueiros
Por Carlos Barcha*
Conforme repercutido pelo 54PSI recentemente, a Associação Brasileira de Importadores e Distribuidores de Pneus (ABIDIP) e a Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos (ANIP) têm divergências quanto à alíquota de importação de pneus no Brasil.
De um lado, a ABIDIP argumenta que a elevação da alíquota de importação prejudica os importadores e distribuidores, resultando em aumento de preços para o consumidor final. Além disso, a ABIDIP acredita que a medida pode levar a uma redução na oferta de modelos e marcas de pneus, limitando a escolha dos consumidores.
Por outro lado, a ANIP sustenta que a alíquota de importação é necessária para proteger a indústria nacional de pneumáticos e incentivar a produção local. A ANIP argumenta que a medida é benéfica para o desenvolvimento econômico do país, cria empregos e fortalece a segurança de abastecimento.
A briga entre as duas associações reflete a luta entre interesses econômicos e políticas protecionistas. Enquanto a ABIDIP defende a livre concorrência e o acesso a uma ampla gama de produtos, a ANIP apoia a proteção da indústria nacional e o desenvolvimento econômico do país.
O custo de produção de um pneu é composto por vários fatores como: 1. Matérias-Primas (borracha natural e sintéticas, aço, óleos e outros componentes); 2. Mão de Obra (salários, benefícios, impostos e taxas, benefícios e treinamento dos trabalhadores); 3. Fabricação (energia elétrica, água, investimentos em equipamentos e outras estruturas); 4. Transporte (logística das matérias-primas e do produto acabado); 5. Embalagem e acondicionamento (caixas, paletes, etiquetas e outros materiais utilizados para embalar e armazenar os pneus); 6. Marketing (gastos de publicidade, promoções e outras campanhas para promover a marca e o modelo do pneu); e 7. Custos Gerais e Administrativos (despesas com escritórios, equipamentos de escritório e outros gastos gerais).
Alguns destes custos são unicamente dependentes da estratégia, capacidade e excelência de cada fabricante, sendo ele o único responsável por tornar sua operação mais eficiente. Outros, entretanto, são inerentes ao mercado onde atuam e às políticas trabalhista, fiscal e tributárias governamentais.
Em meio a essas divergências, cabe ao poder público avaliar qual é a melhor opção para o país a longo prazo, levando em consideração não apenas os interesses das duas associações, mas também os impactos na economia, na sociedade e no meio ambiente. É preciso encontrar um equilíbrio entre a proteção da indústria nacional e a livre concorrência, garantindo a oferta de produtos de qualidade a preços justos para os consumidores.
Muito ajudaria ANIP e ABIDIP deixarem de lado o egoísmo do discurso protecionista de cada uma e unirem forças para oferecer (e cobrar) soluções que resultem em um ambiente favorável para a competição saudável e o fortalecimento do segmento de pneus no Brasil.
* Carlos Barcha é especialista em pneus com mais de 20 anos de experiência no setor automotivo e criador do Método Barcha