Brasil e Europa: velocidades divergentes na transição para veículos não poluentes
Por Carlos Barcha*
O Brasil, seguindo os passos de várias nações europeias, está considerando uma legislação ambiciosa que visa proibir a venda de veículos novos com motores a combustão interna a partir de 2030. No entanto, a proposta brasileira, apesar de ser inspirada em iniciativas similares na Europa, deve ser duramente crítica da tanto pela péssima redação do projeto de lei quanto ao seu timing e viabilidade sumariamente ignorados.
A União Europeia, por exemplo, já aprovou uma lei que proíbe efetivamente a venda de novos carros a gasolina e diesel a partir de 2035, com o objetivo de acelerar a transição para veículos elétricos e combater as mudanças climáticas. Em contraste, o projeto de lei brasileiro, proposto inicialmente em 2017, sequer saiu das comissões preliminares do Comgresso Federal e não tem data para início de vigência.
Isso levanta preocupações sobre a falta de planejamento e preparação adequados para uma transição tão significativa. Além disso, a Europa está reavaliando sua abordagem, considerando combustíveis neutros em CO2 e outras alternativas para atender às necessidades de mobilidade sem comprometer os objetivos climáticos.
Essa flexibilidade e adaptação contrastam com a rigidez do projeto de lei brasileiro, que parece não levar em conta as complexidades do mercado automotivo e as necessidades de infraestrutura para suportar uma frota totalmente elétrica. A falta de timing do Brasil é particularmente crítica, pois a proposta de 2017 chega tarde demais para permitir uma transição suave.
A indústria automobilística precisa de tempo para se adaptar, e os consumidores precisam de incentivos e infraestrutura para fazer a mudança para veículos elétricos. Sem essas considerações, o Brasil corre o risco de impor uma proibição que poderia desestabilizar o mercado e prejudicar tanto a economia quanto o meio ambiente.
Equanto a intenção do Brasil de seguir o exemplo europeu é louvável, a execução deixa a desejar. Uma política tão transformadora requer planejamento cuidadoso, diálogo com stakeholders e uma estratégia de longo prazo que considere todas as variáveis. O Brasil, ao invés de se apressar para alcançar a Europa, deveria aprender com ela e adaptar a política de proibição de veículos a combustão interna para refletir as realidades locais e garantir uma transição justa e eficiente para todos os envolvidos.
* Carlos Barcha é especialista em pneus com mais de 20 anos de experiência no setor automotivo e criador do Método Barcha