EXCLUSIVO: Não somos contra produto importado, mas contra práticas desleais de comércio, afirma presidente da ANIP
Por Lara Roibone
No mercado brasileiro, a disputa entre fabricantes de pneus locais e importadores tem se intensificado. As fabricantes nacionais argumentam que a imposição de tarifas sobre os pneus importados é crucial para proteger a indústria doméstica, garantir empregos e manter a qualidade dos produtos no mercado. Elas afirmam que a concorrência desleal de pneus estrangeiros, muitas vezes vendidos a preços inferiores devido a menores custos de produção, prejudica a sustentabilidade do setor nacional.
Por outro lado, os importadores sustentam que a redução ou eliminação das tarifas beneficia o consumidor final, promovendo preços mais baixos e maior diversidade de produtos. Eles criticam as tarifas como um protecionismo excessivo que favorece monopólios e reduz a competitividade. Essa queda de braço reflete um dilema econômico clássico entre proteção da indústria local e promoção de um mercado mais aberto e competitivo, com implicações significativas para a economia e os consumidores brasileiros.
Conversamos com exclusividade com Klaus Curt Muller, presidente da Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos (ANIP), que compreende 11 empresas e 21 fábricas instaladas no Brasil sobre o impacto da taxação no setor:
1. De que forma a isenção do imposto de 16% sobre importação de pneus de carga impactou a indústria nacional?
O impacto foi o crescimento de 123% das importações em 2021, ou seja, mais que dobrou. A redução do imposto de importação ocorreu após a indústria nacional de pneumáticos bater recorde de vendas no segundo semestre de 2020, ano da pandemia, inclusive importando matérias-primas por avião, essa foi a total falta de reconhecimento do governo federal à época, com um dos pouco setores que não só não parou, como investiu para atender o mercado durante a pandemia.
2. Qual é a sua avaliação sobre a atual participação de mercado dos pneus importados em comparação com os pneus produzidos nacionalmente?
Em relação aos cinco primeiros meses (janeiro-maio) de 2017, as vendas nacionais de 2024 caíram 19% e as importações cresceram 229%. Sobre o mesmo período de 2023, as vendas nacionais recuaram 11% e as importações cresceram 38%. Esse avanço dos importadores na participação de mercado está totalmente baseada em práticas desleais de comércio, desde preços abaixo do custo até operações que não atendem as regras internacionais de comércio.
3. Quais são os principais desafios que a indústria nacional de pneus enfrenta devido à concorrência dos pneus importados?
O desafio é claro: sobreviver em um ambiente desleal que não permite que se opere em condições normais de mercado. Quando se importa produtos abaixo do custo da matéria-prima, não há desafio viável para a indústria local, pois não contamos com os benefícios que as origens das importações contam e jamais faremos operações desleais.
4. Como os pneus importados afetam a cadeia de suprimentos e a geração de empregos no setor de pneus no Brasil?
De forma automática, toda a cadeia é afetada. Se a indústria de pneus tem redução na sua produção, automaticamente haverá redução no consumo de matéria-prima, afetando toda a cadeia produtiva. Como exemplo podemos citar a borracha natural, que hoje se encontra gravemente impactada nas suas vendas, já que o setor de pneus consome 70% da sua produção. Isso também é uma perda estratégica para o país, já que somos um dos únicos países do ocidente que possui produção de borracha natural e pneus. Na questão de empregos, o reflexo também é automático: se a indústria vende menos e tem altos estoques, ela se vê obrigada a reduzir a produção e de forma responsável, antes de realizar demissões. Já colocou 2.500 funcionários em layoff enquanto busca soluções. Lembrando sempre que esse prazo finda.
5. Quais medidas a ANIP tem tomado para proteger e promover a indústria de pneus brasileira frente à crescente importação de pneus?
A ANIP tem tomado todas as medidas disponíveis em defesa comercial, as quais possuem prazos específicos de execução pelo governo federal.
6. Com os resultados de queda de vendas no primeiro quadrimestre de 2024, quais as expectativas da ANIP para este ano? É possível esperar por uma reversão desses números?
A reversão só será possível quando as práticas desleais forem eliminadas pelos instrumentos de defesa comercial disponíveis. É importante deixar claro que a ANIP, apesar de atualmente participar em apenas 2% das importações, não é contra o produto importado e sim contra práticas desleais de comércio.
7. Algum outro ponto que gostaria de abordar?
Outro ponto fundamental, e que é importante chamar a atenção, é a questão ambiental. Os fabricantes nacionais de pneus há anos cumprem as metas de recolhimento de pneus inservíveis no mercado doméstico. Dados do Ibama mostram que os fabricantes nacionais têm um saldo acumulado de 127 mil toneladas de pneus recolhidos para reciclagem. Os importadores, por sua vez, têm um passivo ambiental de 419 mil toneladas de pneus não recolhidos. O Brasil não pode aceitar importações de produtos que não cumpram suas obrigações ambientais.