Reflexões sobre os desafios de 2024 no setor de importação de pneus
* por Rogério Gonçalves
O ano de 2024 ainda não acabou, mas já é possível afirmar que foi um ano desafiador para o comércio internacional de pneus, numa magnitude quase tão grande quanto na época da pandemia. Uma série de fatores impactaram diretamente o custo das operações este ano. Embora a indústria tenha absorvido muitos desses aumentos até agora, o repasse ao consumidor final será inevitável. Vejamos porque:
Até o feriado chinês, em fevereiro, os fretes e tarifas estavam sob controle. No entanto, logo após o feriado, fatores geopolíticos, como o bombardeio de navios mercantes no estreito do Iêmen, forçaram os armadores a desviar rotas, contornando o Cabo da Boa Esperança.
Esse desvio ocorreu porque o estreito é uma passagem crucial para acessar o Canal de Suez, um importante atalho para o comércio internacional. A passagem de cargas pelo canal chegou a ser reduzida em 90% durante o ano, prolongando em até 35 dias o tempo de trânsito das mercadorias. Isso elevou significativamente os custos de frete.
Em julho de 2024, o serviço de transporte marítimo atingiu um pico de US$ 10 mil por contêiner para os principais portos brasileiros. Apesar de uma leve queda, em outubro ainda trabalhamos com fretes na faixa de US$ 6 mil a US$ 7 mil. Em tempos normais, esse custo varia entre US$ 1.000 e US$ 2.500.
Houve ainda problemas indiretos, como o aumento das importações de veículos elétricos e painéis solares, antecipados por fabricantes chineses, devido ao aumento das tarifas de importação para seus setores. Esse movimento elevou a ocupação dos navios e encareceu ainda mais os fretes, já pressionados pela falta de disponibilidade de navios que estão passando mais tempo para chegar aos seus destinos.
Além disso, o câmbio pressionou bastante o setor. Desde junho, o real sofreu uma depreciação significativa, alcançando hoje a cotação de R$ 5,83, o que trouxe um impacto direto sobre os custos.
Diretamente, no âmbito nacional, o aumento do imposto de importação para pneus de passeio de 16% para 25%, aplicado a partir de outubro de 2024, representa um novo desafio. Vamos lembrar que a mercadoria está demorando mais tempo para chegar ao País. Toda a encomenda que embarcamos há três meses, vai encontrar um ambiente tributário completamente diferente quando chegar ao Brasil.
A pressão para repassar esses custos é grande, mas o mercado não absorve aumentos dessa magnitude rapidamente. Atuamos num mercado extremamente competitivo, mas mesmo assim, estimamos que os preços dos pneus subam entre 15% e 20% até o final do ano.
Diante de tantas adversidades, continuamos buscando soluções para mitigar os impactos, como a adoção de políticas de hedge cambial. No entanto, fatores externos como o câmbio, o frete e a tributação fogem ao nosso controle. O ano de 2024 foi um verdadeiro teste para o setor, quase tão desafiador quanto na época do pós-pandemia, quando vimos o custo de frete explodir para praticamente o valor da mercadoria que importávamos.
Trabalhar com a cadeia de suprimentos é uma batalha diária. É como enfrentar um leão por dia e sair vitorioso!
Rogério Gonçalves é Head of Supply Chain da Magnum Tires, com fortes conhecimentos e habilidades em Desenvolvimento de Negócios, Desembaraço Aduaneiro, Gestão de Transportes, Armazenagem, estratégia de compras, com profundo conhecimento dos processos de Compras e Procurement, gerando importantes resultados para a organização.
– As opiniões contidas nesta coluna não refletem necessariamente a opinião do 54PSI –