A contradição da indústria brasileira de pneus: entre a proteção e a obsolescência

A contradição da indústria brasileira de pneus: entre a proteção e a obsolescência

Por Mateus Santos*

No cerne da indústria brasileira de pneus, uma contradição se desdobra como uma trama complexa, quase uma novela mexicana, revelando um cenário onde a proteção encontra-se em conflito direto com o progresso. É uma narrativa de luta entre o desejo de preservar a indústria nacional e a realidade inexorável da concorrência global, particularmente da indústria chinesa de pneus.

Por um lado, o Brasil opta por proteger sua indústria local, impondo tarifas e barreiras comerciais para evitar a inundação do mercado por produtos estrangeiros, especialmente os provenientes da China, conhecidos por sua competitividade em preço. Esta medida visa, em teoria, manter empregos e sustentar a economia nacional, evitando demissões em massa que poderiam ocorrer se a indústria nacional fosse simplesmente submergida pelo tsunami de importações.

No entanto, essa proteção tem um custo invisível, mas significativo. Ao criar uma espécie de redoma em torno da indústria brasileira de pneus, impedindo-a de competir em termos de inovação, eficiência e qualidade, o país inadvertidamente perpetua sua obsolescência. Enquanto as indústrias estrangeiras avançam em tecnologia e processos de produção, a indústria nacional fica estagnada, incapaz de acompanhar o ritmo do progresso.

A ironia atinge seu ápice quando se considera o impacto sobre outros setores da economia. O protecionismo, ao manter os preços dos pneus nacionais altos, contribui para o encarecimento do custo do frete, afetando indiretamente toda uma cadeia de consumo e atividades econômicas que dependem do transporte rodoviário. Essa é uma faceta da contradição: a tentativa de proteger uma indústria pode resultar em consequências prejudiciais para outras.

Um exemplo vívido disso é a indústria da recapagem de pneus. Enquanto os pneus importados, que não possuem barreiras de importação, inundam o mercado a preços mais baixos, os frotistas veem pouca razão para investir na recapagem, uma prática que poderia proporcionar economias significativas a longo prazo além de proteção ao meio ambiente. Porém, a indústria da recapagem, uma das que mais recicla e que segundo dados da ABR, chegando a economizar 5 bilhões de litros de petróleo, não possui nenhum incentivo fiscal. A consequência direta disto, é o encarecimento da reforma, ou aos desavisados do setor, redução de margem e consequente obsolescência do parque fabril, assim como ocorre com os pneus novos.

Nesse emaranhado de contradições, não há soluções simples. O desafio reside em encontrar um equilíbrio delicado entre proteger os interesses da indústria nacional e promover sua capacidade de competir globalmente. Isso pode envolver a revisão das políticas de protecionismo, incentivando investimentos em inovação e modernização, e promovendo parcerias estratégicas que permitam à indústria brasileira de pneus prosperar em um mundo cada vez mais globalizado e competitivo. Enquanto isso, a contradição persiste, lançando uma sombra sobre o futuro de uma indústria presa entre o desejo de proteção e a necessidade de progresso. Aos caros leitores, acredito que todos saibam qual lado dessa história, este que vos fala defende.

2 comentários sobre “A contradição da indústria brasileira de pneus: entre a proteção e a obsolescência

  1. É muito perceptível que Mateus Santos joga para a plateia quando fala do mercado de pneus…conhece pouco do de diz dizer.
    Obsolescência? As indústrias nacionais vem investindo em desenvolvimento de produto coisa que os fabricantes importados não fazem e vem somente com discurso fraco de preço baixo achando que isso é suficiente para sustentar o mercado do Brasil….muitos felizmente estão vendo que não é suficiente.
    Falam em competitividade em preço, é a única coisa que tem para oferecer, pois performance nunca foi o objetivo dos importados.

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