A mobilidade do futuro se escreve com H
Por Carlos Barcha é especialista em pneus com 20 anos de experiência no setor automotivo, fundador e CEO da The Consulting Business Solutions e, também, Gerente Técnico da Michelin América do Sul. As opiniões e informações aqui expressas são pessoais e não refletem necessariamente o posicionamento destas empresas
Que o futuro da mobilidade é “verde”, não se tem dúvidas, tanto que temos observado nos últimos anos uma verdadeira corrida pela eletrificação no setor automotivo. O sucesso da montadora Tesla e de seus esportivos totalmente elétricos além da proibição de motores à combustão imposta pelo governo alemão já para 2030 são exemplos pungentes desta verdadeira maratona.
Com isso, vemos todos os principais grupos com envolvimento na cadeia automotiva – ou que atuam na área da mobilidade – reestruturando suas operações ou concentrando grandes investimentos na eletrificação, seja na forma de produtos ou de serviços.
Mas a pergunta que fica é: a eletrificação, então, é a parada final na estrada para a Nova Mobilidade? A resposta é: não! Não por causa dos pontos recorrentes em inúmeras discussões sobre o processo de eletrificação, necessidade de investimentos exorbitantes em países praticamente sem infraestrutura como o Brasil ou pelas tecnologias que ainda precisam se desenvolver ainda mais. A resposta é não porque a eletrificação é uma parada intermediária nesta estrada.
Então, onde essa estrada termina? A resposta fica mais evidente a cada dia e está no elemento químico mais abundante na natureza, com acesso gratuito a todos os seres vivos, cujo número atômico é o 1 e seu símbolo está no título acima. Sim, estamos falando do hidrogênio (H)!
Enquanto a esmagadora maioria dos grandes players globais foca massivamente em tecnologias e estratégias baseadas na eletricidade como a conhecemos – a força gerada por usinas hidroelétricas, térmicas, nucleares, eólicas ou solares – como o combustível para os carros do futuro, alguns poucos decidiram apostar também no hidrogênio e em como mitigar os desafios para dominá-lo e aplicá-lo na indústria automotiva de forma sustentável, rentável e segura, já percebendo hoje ter sido essa uma aposta acertada.
Prova disso é o anúncio recente do governo francês de seu compromisso com a chamada “Estratégia Francesa de Hidrogênio”, visando a geração de empregos, a redução na emissão de CO2, a promoção da transição de sua matriz energética e, claro, a melhora da qualidade do ar. Essa declaração vai ao encontro de ações similares conduzidas por governos como os do Japão, da Alemanha e da Austrália, entre outros.
A América do Sul, capitaneada pelo Brasil, tem uma nova chance de alinhar-se com as grandes economias mundiais e principais centros de inovação para mitigar o abismo tecnológico que existe hoje. Isso sem precisar de investimentos surreais e impraticáveis na infraestrutura do nosso setor elétrico, começando com a promoção de uma discussão técnica e de alto nível para atualizar a nossa ultrapassada e frágil matriz energética.
Como dito no início deste artigo, a mobilidade do futuro é “verde”, limpa e autônoma, mas será reflexo das iniciativas e das decisões que estão sendo tomadas já há algum tempo, sem esquecer que a estrada que nos levará até ela possui várias paradas até chegarmos na Nova Mobilidade, sendo a eletrificação apenas uma delas.