Além dos desafios técnicos e industriais do novo Rota2050
É verdade que ainda estamos em 2021, e que o atual Rota2030, programa federal para estimular o investimento e o fortalecimento das empresas brasileiras do setor automotivo por meio do desenvolvimento e da aplicação de novas tecnologias, está longe de navegar em águas tranquilas. Mas algumas discussões sobre seu sucessor começam a se intensificar. Vem aí o Rota2050!
Replicando os mesmos moldes usados no seu irmão mais velho, esta nova política industrial teria sua organização compartilhada entre governo federal e indústria e, como pontos principais, trata a renovação da frota de caminhões e a correção do chamado Custo Brasil para alavancar as exportações.
Soando como música aos ouvidos dos executivos do setor automotivo e em linha até com a ANFAVEA, o governo federal fala até de programas pilotos na tentativa de viabilizar estratégias para o uso de combustíveis alternativos como o GNV, biometano e GNL já para este ano, o que diminuiria os efeitos dos aumentos no preço do litro do diesel. E a redução da ineficiência do Brasil nos deixaria em condições de buscar fatias consideráveis do mercado além de nossas fronteiras.
Mas, independentemente dos desafios inerentes à redução de burocracia e carga tributária, desafios historicamente complexos e sensíveis, vemos a repetição de padrões indesejados na elaboração de políticas públicas de longo prazo. E não estamos falando apenas da questão de matriz energética ou se toda ou parte da cadeia automotiva será de alguma maneira beneficiada.
Já há alguns anos que as montadoras identificaram uma mudança considerável no perfil dos seus consumidores e um estudo recente da Bright Consulting estima que a Geração Z ou Centennials, como são chamados os nascidos a partir de 1997, deixará de comprar cerca de 250 mil veículos por ano, 2.5 milhões até 2030. E se esta queda de volume já não fosse suficiente para trazer uma nova variável à já complexa equação que temos, o panorama geral é ainda mais complexo por conta do momento disruptivo sem precedentes no qual estamos vivendo.
Devemos ir além da já conhecida filosofia do “usufruir e não possuir”, que além de marcar essa geração propiciou a massificação dos aplicativos de transporte de pessoas e encomendas e tende a fomentar um crescimento exponencial dos aplicativos de compartilhamento de veículos nos próximos anos.
E é aqui que está o motivo de seguirmos repetindo um padrão que, falando a médio e longo prazos, poderá nos levar às situações que deveriam ser evitadas no momento que se escolhe planejar com tal antecedência políticas públicas e tendências para um setor vital da sociedade como o da mobilidade.
Se por um lado devemos aplaudir, de pé, a ação do Ministério da Economia, através da Coordenadoria de Implementação e Fiscalização dos Regimes Automotivos, e da indústria automotiva, não podemos cair novamente no erro de ignorar os caminhos escolhidos e já traçados por mercados mais maduros que o brasileiro, que colocam a eletrificação, entre outras tecnologias, como base para suas políticas voltadas à mobilidade. Devemos aproveitar esta década de Rota2030 para promover ajustes e toda a discussão sobre o Rota2050 para realmente termos um cenário favorável e robusto para vencer os desafios complexos que se desenham à nossa frente.
Carlos Barcha é especialista em pneus com 20 anos de experiência no setor automotivo, fundador e CEO da The Consulting Business Solutions. As opiniões e informações aqui expressas são pessoais e não refletem necessariamente o posicionamento destas empresas.Carlos Barcha