All-in elétrico
Por Carlos Barcha*
O mais recente relatório Long-Term Electric Vehicle Outlook, da BloombergNEF, sustenta que o mercado de veículos elétricos deverá quintuplicar até 2025. Também, afirma que o último carro a combustão deverá rodar até 2038.
Detalhe importante: esses dados não são necessariamente projeções de mercado, mas resultado da conta para o chamado Net Zero, compromisso da mobilidade para reduzir a emissão dos gases de efeito estufa até 2050.
Ao que parece, fabricantes de veículos e grandes empresas de outros segmentos estão focando cada vez mais na eletrificação e apostando que as estimativas de relatórios como este tornem-se volume e demanda.
Além da Tesla, que ainda é referência no movimento dos carros elétricos, montadoras tradicionais como Ford, Honda, Toyota e Volkswagen, bem como gigantes como Apple, Sony, Panasonic e LG se encaminham para os elétricos.
Voltando ao relatório da BloombergNEF, as vendas de veículos elétricos aumentam devido a combinação entre o suporte de políticas governamentais, desenvolvimento da tecnologia de baterias, melhoria da infraestrutura de carregamento e modelos mais atraentes de veículos.
Porém, conforme mostra a pesquisa Ipsos Drivers 2022, no Brasil o cenário não é, ainda, tão promissor. Embora os brasileiros demonstrem interesse por carros elétricos, preço, infraestrutura e vida útil são pontos que pesam contra a compra.
Dado preocupante, uma vez que o Brasil é apenas um mercado consumidor do que é pensado e desenvolvido para mercados maduros como o americano e europeu, que estão sendo impactados principalmente por políticas públicas como a Lei de Redução da Inflação, aprovada pelo Congresso norte-americano, que fornece incentivos fiscais à fabricantes de veículos elétricos.
Vale lembrar, também, que o estado americano da Califórnia transformou em lei a iniciativa de banir carros a combustão até 2035.
De olho nos maiores mercados automotivos mundiais, a Toyota acaba de triplicar os investimentos em eletrificação para construir, em parceria com a também nipônica Panasonic, a Toyota Battery Manufacturing North Carolina por US$ 3,8 bilhões, com planos de produção de baterias para modelos full-elétricos e, atenção, híbridos, a partir de 2025.
Outra montadora que aposta em parcerias além do setor automotivo é a outra gigante japonesa Honda, que já possui uma parceria com a Sony para criação de veículos elétricos, alia-se também à sul-coreana LG Energy Solution para construir sua própria fábrica de baterias para os modelos elétricos destinados ao mercado americano por US$ 4,4 bilhões.
Com investimentos na casa das dezenas de bilhões de dólares, fica evidente que a recompensa depende de dois pilares fundamentais: demanda futura e incentivos fiscais.
Economias como a dos Estados Unidos e da maioria dos países da União Europeia não estão acostumadas à inflação de dois dígitos e já não é raro encontrar economistas e analistas econômicos preocupados com a impressão desenfreada de dinheiro. Como aprendemos a duras penas ao longo dos anos 1980 e início dos 1990 no Brasil, imprimir dinheiro para combater a inflação fera mais inflação.
Converter bilhões e bilhões de dólares em fichas para apostar alto em apenas um modelo de mobilidade só porque existem previsões (ou desejo) de demanda, atende ao discurso ambiental alarmista que já mergulhou a Europa em uma crise energética sem precedentes e corrobora com certas pautas ESG que se tenta emplacar em detrimento de eficiência e liberdades individuais não é coisa para amadores.
Mas pode sair muito mais caro…
* Carlos Barcha é especialista em pneus com mais de 20 anos de experiência no setor automotivo e criador do Método Barcha