Calibrar pneu será coisa do passado

Calibrar pneu será coisa do passado

Por Carlos Barcha*

Não é novidade nenhuma que os pneus estão cada vez menos dependentes da pressão de inflação.


Desde a aplicação massiva dos pneumáticos no final do século XIX, a necessidade de calibração
constante sempre foi motivo de preocupação, seja pelo aumento no desgaste e consumo de
combustível, nos riscos de incidentes ou mesmo pelo inconveniente de procurar uma borracharia ou
posto de gasolina.

Desde o início dos anos 1980, os pneus run-flat são realidade e tornaram-se uma solução para casos
de perda repentina de pressão, redução no peso dos carros e até aumento do espaço em portamalas, apesar das distâncias e velocidades reduzidas quando rodando sem pressão.

Porém, além das restrições técnicas, a necessidade de se melhorar cada vez mais a eficiência
energética dos pneus fez com que a indústria começasse a buscar alternativas como os pneus sem
ar, também conhecidos como não-pneumáticos ou NPT.

Em 2005, a Michelin surpreendeu o mundo ao lançar o Tweel, sua visão de pneu NPT. Apesar de
rodar 100% do tempo sem pressão, ter capacidade de carga, absorção de choques e manuseio
similares aos pneus tradicionais, apresentava vibrações excessivas em velocidades superiores à
80km/h que, associadas à falta de outros agentes motivadores na época, fez com que o Tweel se
popularizasse em veículos industriais como empilhadeiras e em carrinhos de golfe.

Até o final da década passada, quando a necessidade de se reduzir os níveis de resistência ao
rolamento dos pneus e a identificação de nichos inexplorados em mercados como o militar,
agricultura e mineração, trouxe a motivação que faltava para evoluir os pneus NPT.

A Bridgestone, que desde 2011 vem evoluindo a sua tecnologia de pneu sem ar, tem agora a
companhia da coreana Hankook, que revelou o seu conceito I-Flex NPT em janeiro deste ano. Já a
alemã Continental decidiu apostar as suas fichas no desenvolvimento de sistemas de bombas e
sensores que darão conta de manter a pressão dos pneus sempre em níveis ótimos.

E existem ainda os fabricantes que estão desenvolvendo a solução NPT em parceria com montadoras
de veículos, como é o caso da Goodyear, que utiliza veículos Model 3 da também americana Tesla
nos testes no seu campo de provas em Luxemburgo. Em parceria similar, a Michelin aproveitou todo
o conhecimento adquirido com o Tweel para desenvolver o Uptis em parceria com a General
Motors, visando equipar o elétrico Chevy Bolt em série muito em breve.

Entretanto, ao contrário do que os fabricantes e montadoras pensaram, o verdadeiro desafio da
tecnologia NPT não está em questões dinâmicas como ruído e vibrações, níveis de dirigibilidade ou
de conforto.

O que mantém inviável a substituição dos famosos pneumáticos pela tecnologia NPT hoje é algo que
já estava presente no Tweel e continua em todos os demais conceitos apresentados desde então,
que são rodas exclusivas e não cambiáveis!

É natural que o desenvolvimento da tecnologia NPT tenha focado nas lamelas, responsáveis não
apenas pela sustentação e capacidade de carga do pneu, mas principalmente pelos níveis de
conforto, ruído e dirigibilidade.

Porém, justamente pela ausência da lateral tradicional, a região do talão exige uma solução
completamente diferente dos tradicionais aros das rodas que existem atualmente, sendo que
algumas soluções NPT exigem rodas integradas ao pneu, ou seja, são uma coisa só!

Como cada fabricante chegou em soluções diferentes, a intercambialidade de pneus é impossível e a
como será feita a reposição destes pneus é uma questão sem resposta. Até que ponto é interessante
para as montadoras restringirem seus clientes a contar com apenas um modelo de uma única
marca?

Que calibrar pneu já é coisa do passado, isso já ficou claro, mas ainda há muito o que se pensar, criar
e desenvolver para tornar a tecnologia NPT um substituto viável para os tradicionais pneumáticos.

*

* Carlos Barcha é especialista em pneus com mais de 20 anos de experiência no setor automotivo e criador do Método Barcha

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