É hora de falarmos sobre a eficiência ecológica dos pneus
Em artigo recente do 54PSI.com, vimos uma matéria interessante sobre o aumento do peso médio dos pneus de passeio nos últimos anos, impactando negativamente o custo no recolhimento dos pneus inservíveis.
O motivo para este aumento, além do uso cada vez maior de pneus com perfil ultrabaixo e a popularização do segmento de SUV no mundo, é o fenômeno de upsizing (aumento do aro das rodas) que existe há anos e ainda estará em plena marcha por vários anos aqui no Brasil!
No momento onde a questão sobre pegada de carbono está cada vez mais em voga e a indústria se vê em uma encruzilhada técnica, pois não existe mais grandes margens para a redução dos níveis de resistência ao rolamento dos pneus e muitos dos novos materiais ainda não possuem viabilidade econômica para utilização em escala industrial, é praticamente certo que os custos de reciclagem continuarão aumentando e impactando negativamente a busca pela neutralização de carbono tão sonhada pela indústria automotiva.
É importante salientar que o conceito por trás da pegada de carbono é a sustentabilidade que, por sua vez, pode ser resumida no uso otimizado de recursos naturais, ou, de forma ainda mais simplista, fazer mais com menos.
Espera-se, portanto, que se tenham ações efetivas para a redução na emissão de carbono em todas as etapas do ciclo de vida do produto, não apenas ações compensatórias para alardear que ele é “neutro” em CO2.
Neste contexto, o futuro de curto prazo no setor automotivo, notadamente na fabricação, uso e descarte dos pneus, aponta para um aumento da pegada de carbono, que é uma das variáveis que compõem a pegada ecológica, expressão que se refere à quantidade de terra e água que seria necessária para sustentar as gerações atuais, tendo em conta todos os recursos materiais e energéticos, gastos por uma determinada população.
Estima-se que a média da pegada ecológica mundial é de 2,7 hectares globais por pessoa. Enquanto isso, a biocapacidade de fornecimento do planeta gira em torno de 1,8 hectare global por pessoa. Esses dados apontam a necessidade de 1,5 planetas para abastecer nossas necessidades.
Como podemos ver, a pegada de carbono é apenas a ponta de um enorme iceberg ainda desconhecido por grande parte das pessoas não apenas no Brasil, mas no mundo.
Para o melhor – e correto – entendimento de toda a questão ecológica por trás do ciclo de vida de um produto, devemos observar nos próximos anos a popularização do conceito de rotulagem ecológica, ou rotulagem climática.
Embora a rotulagem ecológica não seja, hoje, obrigatória em nenhum lugar do mundo, está se tornando tendência rapidamente a partir da aplicação da norma ISO 14024, que está inclusa dentro da série de normas ISO 14000 desde 2004.
A norma teve uma evolução em 2018 justamente no que tange aos documentos necessários para a obtenção da rotulagem ecológica, objetivando-se evitar o greenwashing, que é quando uma empresa defende o discurso da sustentabilidade, mas não toma decisões reais que mudam este cenário.
Mesmo a adesão aos rótulos ecológicos sendo voluntária, ela representa desde já um grande diferencial competitivo, provando não apenas que a empresa está engajada nas questões ambientais, mas que realiza ações relevantes para a sustentabilidade de seus produtos e, portanto, faça jus ao rótulo de empresa ecologicamente engajada com o futuro do planeta.
Fica aqui o desafio: qual o fabricante de pneus que vai primeiro equalizar o cenário de pegada de carbono e tornar-se verdadeiramente uma empresa neutra em CO2?
Carlos Barcha é especialista em pneus com 20 anos de experiência no setor automotivo, fundador e CEO da The Consulting Business Solutions. As opiniões e informações aqui expressas são pessoais e não refletem necessariamente o posicionamento destas empresas.