Made in China é sinônimo do quê?
Já não é de hoje, muito menos por conta da pandemia que balançou as estruturas do mundo todo, que produtos de mercados predominantemente do sudeste asiático sofrem um certo bullying.
Mas afinal de contas, é o local de origem que determina se alguma coisa será realmente boa ou ruim?
Recentemente fui marcado por um grande amigo no Facebook na postagem de uma foto onde lia-se na lateral de um pneu: Safety Warning e, logo abaixo, Made in China. Para quem não sabe, o Safety Warning, ou aviso de segurança em tradução livre, é um bloco com uma série de informações relacionadas à segurança de manuseio e utilização do pneu, exigido pelo mercado americano.
Na foto, do ângulo como ela foi tirada, fica a sensação de que a mensagem de cuidado se deve ao fato do pneu ter sido produzido em terras chinesas. E, claro, no melhor estilo “perde-se um amigo, mas nunca a piada”, houve muitas brincadeiras, algumas até de humor mais negro referindo-se ao novo coronavírus.
E depois de responder ao post, indaguei-me sobre até onde um produto originado de um determinado lugar pode, ou não, ser ruim. Ou bom! Quais seriam os elementos que permitem que produtos sejam bons ou ruins?
De imediato, devemos destacar o know-how, ou o como fazer, como premissa básica para se ter algo bem-feito ou não. Depois, podemos elencar os recursos em termos de máquinas e equipamentos, depois as habilidades e qualificação da mão-de-obra empregada. Tem também a matéria-prima usada. E, então, vamos chegar ao ponto crucial que vai definir se um produto é, ou pode vir a ser, bom ou ruim: o seu preço!
Preço está diretamente ligado à margem de lucro e custo final. Até aí, não tem segredo!
Então vamos fazer um exercício simples: se eu tenho uma margem de lucro e um custo final bem definidos, mas quero mudar o preço do meu produto, ou eu altero a margem de lucro, ou o custo final. Se para cima, terei um incremento; se para baixo, conseguirei uma redução do preço.
Voltando à “fama” ainda hoje inerente aos produtos asiáticos, eles possuem uma péssima reputação por conta do seu custo extremamente baixo. Logo, associa-se ao fato de serem baratos uma péssima qualidade.
Não vou entrar no mérito aqui sobre um entendimento equivocado que nós, brasileiros, temos sobre o conceito de qualidade. Mas, por hora, basta dizer que qualidade não necessariamente está ligada à custo.
Qualidade, ainda de acordo com o conceito deturpado que temos, está mais ligada à excelência da matéria-prima e qualificação da mão-de-obra que ao custo propriamente dito. E chegamos, então, a uma constatação interessante: se eu uso uma mão-de-obra desqualificada, geralmente mais barata, ou matérias-primas inadequadas, ou de baixa “qualidade” por serem mais baratas, terei um produto com o custo final barato e poderei cobrar bem menos que um concorrente mantendo minha margem de lucro, porém poderá se traduzir em uma experiência muito ruim para quem o adquirir!
Reparou que, em nenhum momento ao longo do raciocínio acima, falamos de local de origem, ou o famoso made in? Se mão-de-obra desqualificada e matéria-prima ruim fossem sinônimos de países de fabricação, seu smartphone não teria sido produzido na China, sua roupa não teria sido feita no Vietnã, seu tênis não teria vindo do Camboja e por aí vai.
Portanto, o que define se um produto pode ser bom ou ruim não é, definitivamente, o seu país de origem, por mais que em um determinado país você tem ofertas de produtos similares, praticamente idênticos, com uma discrepância na sua excelência enorme, seja na questão do acabamento, montagem, funcionamento ou durabilidade. Se pudermos resumir tudo isso, diria que a “qualidade” do seu produto está diretamente ligada ao custo dele e, por consequência, ao preço que você está disposto a pagar!
Mas não confunda preço alto e produto caro, com preço justo e relação custo-benefício.
Lembre-se que a margem de lucro é outra variável desta equação…
Carlos Barcha é especialista em pneus com 20 anos de experiência no setor automotivo, fundador e CEO da The Consulting Business Solutions. As opiniões e informações aqui expressas são pessoais e não refletem necessariamente o posicionamento destas empresas.