Menos é mais

Menos é mais

Por Carlos Barcha*

O pneu, como componente, não possui grandes diferenças quando projetado para equipar carros a combustão ou carros elétricos.  

As exigências de dirigibilidade, frenagem e conforto independem da tecnologia de motorização. Veículos elétricos necessitam de um foco maior na questão acústica, já que não existe ruído de motor para abafar os ruídos causados pela rolagem do pneu no asfalto.  

E a questão acústica pode ser crucial para o futuro dos pneus não pneumáticos, ou NPT.  

Um dos fatores contribuintes para o ruído de rolagem é a passagem do ar pelo pneu. Dependendo da velocidade, existe um ruído maior ou menor sendo somado a vários outros. 

A tecnologia NPT resume-se às lamelas que suportam o peso do veículo. Quantidade, espessura, ângulos e dureza impactam diretamente na performance do pneu, sem falar em todas específicas e outras particularidades.  

E tudo isso, girando em determinada rotação em ambientes fora de qualquer tipo de controle, pode resultar em um fenômeno que tira o sono de todo engenheiro automotivo: ressonância. Por quê? Por aumentar o nível de ruído geral do carro e, em casos extremos, ser fonte de vibrações desconfortáveis e até perigosas.  

Outro ponto que tende a passar desapercebido pelos fabricantes que apostam no NPT é o “tamanho do cobertor”. Na concepção e desenvolvimento de pneus, sabe-se que é impossível atingir o estado da arte em todas as performances necessárias. 

Busca-se, portanto, um produto que possa abranger o máximo de prestações possíveis sem torná-lo demasiadamente limitado nas performances antagônicas.  

A tecnologia runflat é um exemplo de cobertor curto. Primeira resposta para o desafio dos pneus sem pressão de inflação, o runflat mostrou-se incapaz de acompanhar as evoluções nas legislações de eficiência energética e, também, mostrou-se muito limitado para atingir níveis cada vez mais ousados de conforto e ruído. 

Se considerarmos que o conceito básico do pneu atual tem mais de 100 anos, o runflat ficou muito aquém do esperado. 

E o mesmo pode acontecer com a tecnologia NPT. Por conta das exigências de construção, será que esse conceito possibilitará acompanhar as evoluções dos veículos, sejam eles elétricos ou não?  

Há quem aposte que o conceito atual, centenário, ainda tem muito a oferecer. Com a disponibilidade de novos materiais, já existe no mercado pneus com selantes internos que evitam vazamentos de ar em caso de furo do pneu, não deixando nada a desejar para runflats ou NPTs.  

Em pesquisa e desenvolvimento, algumas máximas são verdadeiros mantras e estão mais atuais do nunca!  

Não precisa reinventar a roda, menos é mais e a melhor resposta pra um problema é sempre a mais simples… 

* Carlos Barcha é especialista em pneus com mais de 20 anos de experiência no setor automotivo e criador do Método Barcha

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