Mitos sobre pneus que circulam pela internet

Mitos sobre pneus que circulam pela internet

Não são raras as vezes que, navegando pela internet, nos deparamos com matérias, vídeos ou testemunhos de pseudo-especialistas ou de pessoas comuns que, na maioria das vezes imbuídas de espírito coletivo e de ajuda, compartilham suas experiências e conhecimentos sobre pneus.

Só que, infelizmente, é comum ver que as informações estão erradas, incompletas ou foram mal interpretadas, levando à uma informação inverídica ou que pode gerar situações de risco ou escolhas equivocadas.

Separamos cinco mitos que você já deve ter visto em algum canal do YouTube, página do Facebook ou recebido em um dos seus grupos de WhatsApp:

  • “Cabelinhos” no pneu: sinônimo de pneu novo e, quanto mais, melhor é o pneu.

Os “cabelinhos” que vemos em vários pneus são resultado do processo de vulcanização, onde o pneu é pressionado contra a parede do molde e, devido a presença de furos para a melhor ventilação e vulcanização do pneu, a borracha acaba sendo expelida e daí surge o famoso “cabelinho”. Processos mais modernos e estáveis usam outras tecnologias de ventilação do molde, ou simplesmente necessitam de uma quantidade menor de furos de ventilação para que o processo seja realizado à contento, resultando em poucos ou nenhum “cabelinho”.

Por isso, a sua presença ou ausência não garante que um pneu é novo ou usado e mais, o excesso de furos de ventilação no molde mostra dificuldades daquele fabricante para garantir que o seu pneu seja o mais próximo possível da circunferência perfeita. Logo, uma “cabeleira avantajada” não significa que o produto seja ruim, mas menos ainda que é melhor que outros menos “cabeludos”.

  • Pneu bom é pneu fresco, aquele que tem o DOT recente.

Já abordamos em outro artigo aqui no 54psi.com que um pneu, embora não tenha data de validade como os produtos que compramos no mercado, começa a apresentar alterações em suas propriedades físico-químicas depois de alguns (vários) anos. Logo, a qualidade do produto não está associada ao tempo em que ele foi fabricado.

O que é realmente importante observar é como o revendedor armazena os pneus em seu estoque. Antes de efetivar a compra, procure observar se os pneus estocados estão abrigados da luz e da umidade, em um ambiente de temperatura ambiente e se estão armazenados corretamente em pilhas que não ultrapassem os dois metros de altura.

  • Pneus com a marcação M+S não podem ser usados em países que não tem neve e/ou na cidade.

A marcação M+S (Mud + Snow ou Lama + Neve, em tradução livre) está comumente presente em pneus para uso misto, off-road, ou para neve, e informa ao usuário que ele possui níveis de tração mínimos para estas superfícies. Porém, não significa que pneus para uso unicamente em asfalto, ou em países que não tem a ocorrência de neve ou gelo e que possuem esta marcação, devam ser evitados.

Esta marcação nada tem a ver com a performance do pneu em altas temperaturas ou no asfalto e a razão disso está no processo de obtenção da marcação. Existem duas maneiras de se obtê-la: a primeira, direta, é através de testes específicos de tração, onde o pneu precisa apresentar resultados além do mínimo estabelecido e, a segunda, indireta, é a partir da área de contato do pneu no solo vs. as regiões vazias desta área (sulcos e distância entre blocos); se o pneu apresenta uma taxa entre área de contato vs. regiões vazias acima de uma determinada porcentagem, ele automaticamente está apto a receber a marcação M+S, mesmo que seja um pneu com baixíssimo rendimento nas condições de lama e neve.

  • Pneus com mais listras na banda de rodagem são piores, de qualidade inferior ou rejeitados no processo.

A cor e/ou a quantidade de listras que eventualmente um pneu pode ter na sua banda de rodagem nada mais é do que uma ferramenta de identificação daquele determinado pneu para o fabricante e/ou a montadora. Não existe qualquer relação entre cor e quantidade de listras com a qualidade do produto!

Imagine que você está num armazém com 400 paletes, com todos os pneus empilhados. Por mais que haja controles de estoque e localização, esta identificação por listras e cores pode facilitar, e muito, a operação logística e é uma garantia adicional de que o produto correto será utilizado da forma correta.

  • Pneus com “Treadwear” baixo gastarão mais rápidos que outros com índice maior.

Este tema é polêmico e merece um artigo somente para ele, porque o Treadwear é um dos três índices que compõem o UTQG, do inglês Uniform Tire Quality Grading ou Classificação Uniforme da Qualidade dos Pneus, em tradução livre, composto também por índices de resistência à temperatura e tração. Corresponde ao desgaste de um pneu durante um teste de 9.600 km, em condições controladas, contra um pneu de controle conhecido. O índice Treadwear varia de 60 a 620, definido sempre contra o valor de referência de 100 atribuído ao pneu de controle, que nunca muda.

Em outras palavras, um pneu com um Treadwear de 50 desgastar-se-á na metade da distância/tempo que o pneu de referência, enquanto um pneu com um Treadwear de 420 terá um rendimento quilométrico 4,2 vezes maior que este mesmo pneu de referência. Portanto, quando maior o índice Treadwear, mais longa será a duração do pneu, certo?

ERRADO! O índice de Treadwear reflete apenas o resultado de um teste específico, em condições específicas, comparando a um pneu específico! No mundo real, uma gama enorme e variada de fatores interfere no padrão e velocidade de desgaste de um pneu: estilo de direção do condutor, variações meteorológicas, condições de rodagem (qualidade do asfalto e manutenção das vias), formulação química dos compostos da banda de rolamento, entre outros mais discretos.

Sabe de mais alguma lenda ou mito que gostaria que esclarecêssemos ou, até quem sabe, confirmemos que é verdadeiro? Deixe seu comentário aqui ou entre em contato com o 54psi.com!

Carlos Barcha é especialista em pneus com 20 anos de experiência no setor automotivo, fundador e CEO da The Consulting Business Solutions e, também, Gerente Técnico da Michelin América do Sul. As opiniões e informações aqui expressas são pessoais e não refletem necessariamente o posicionamento destas empresas.

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