O Brasil como protagonista na mobilidade elétrica

O Brasil como protagonista na mobilidade elétrica

Por Carlos Barcha*

A necessidade de investimentos pesados e em grande escala para que veículos elétricos possam circular em um país continental como o Brasil é ponto pacífico.  

E, por isso, apostar em baterias mais eficientes para aumentar a autonomia desse tipo de veículo é algo altamente recomendável!  

Desde uma declaração do Presidente da República em 2020, o Brasil tem gerado dúvidas e expectativas sobre o desenvolvimento de uma “superbateria” de nióbio e grafeno que promete revolucionar o setor automobilístico. 

Diante das dúvidas e incredulidade quanto a viabilidade técnica do projeto, vamos falar um pouco sobre reservas minerais, fabricação de produtos químicos especiais para componentes de baterias e a viabilidade técnica do novo conceito tupiniquim. 

De acordo com o Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS), o Brasil destaca-se como detentor da primeira e da terceira maiores reservas mundiais exploráveis de nióbio e grafite, respectivamente. Grafite é uma das matérias-primas precursoras do grafeno, um insumo especial cuja origem está associada a processos de manufatura avançada que fazem uso da nanotecnologia. 

Embora sejam abundantes no País, o que torna o Brasil estratégico para o fornecimento ao mercado mundial, esses ativos não são raros na Terra. Recursos adicionais estão contidos em depósitos diversos no planeta, muitos ainda não explorados comercialmente por causa da localização em regiões que tornariam a mineração desafiadora e dispendiosa. 

A despeito de ser considerado um metal estratégico, o nióbio não é um elemento essencial no desenvolvimento de produtos para componentes das baterias de íon-lítio. O que o torna relevante é sua capacidade de tornar os demais produtos químicos presentes nas baterias mais estáveis aos ciclos de carga e descarga, que contribui para estender a vida útil das baterias. 

Outros metais estratégicos cujas reservas minerais também são abundantes no Brasil, como vanádio e tântalo, podem ser usados, ao invés do nióbio, com resultados similares. Guilherme Luís Cordeiro, Mestre Doutor em Ciências dos Materiais e idealizador do NanoBlog, escreveu um excelente artigo técnico para o site medium.com/batterybits que vale a leitura!  

Em contraponto às baterias de íon-lítio atuais, as baterias de sal do tipo sódio-grafeno chamam a atenção pela possibilidade de eliminar o consumo de recursos tradicionais, tais como lítio, níquel, cobalto, e nióbio incluído. 

Além do potencial para redução de custos, em função da diminuição do consumo de metais críticos, e massa, já que uma folha com um metro quadrado de grafeno pesa 0,0077 gramas, as baterias de sal serão mais seguras e ambientalmente amigáveis, uma vez que o líquido orgânico e inflamável presente na tecnologia atual poderá ser substituído por água salgada.

Embora o conceito de baterias de sal ainda não esteja disponível para aplicação em larga escala, a Mercedes-Benz levou para a CES2020 seu carro conceito Vision AVTR, um elétrico com protótipos de baterias de sal à base de grafeno que permitem autonomia de 700 km e ter suas baterias recarregadas completamente em 10 minutos, segundo o Gerente Sênior de Sistemas de Baterias da montadora alemã. 

E em 2021 a Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração anunciou tanto uma parceria com a Volkswagen Caminhões e Ônibus como um plano de investimento de R$ 7 bilhões para o aumento da capacidade de produção de nióbio, além do desenvolvimento de novas tecnologias com óxidos de grafeno. 

Temos elementos para apostar tanto no sucesso do projeto da “superbateria” brasileira como em um papel de protagonismo do Brasil quando o assunto for baterias de altíssima eficiência para o mercado automobilístico mundial. 

Isso abre um novo leque de possibilidades para a mobilidade elétrica no país, tornando a tecnologia viável ao mesmo tempo que reduz a quantia de dinheiro necessária para criar a infraestrutura necessária e a manipulação de descartes em todo o país.  

* Carlos Barcha é especialista em pneus com mais de 20 anos de experiência no setor automotivo e criador do Método Barcha

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