O CO2 é a pirita do século XXI?
Por Carlos Barcha*
Recentemente, um artigo do jornal The Washington Post debateu o relatório anual do Instituto Australiano de Ciência Marinha, órgão governamental que monitora a Grande Barreira de Corais, o maior sistema de recifes da Terra há mais de 35 anos. E o relatório de 2022 destaca que o recife “ainda é vibrante, ainda resiste e pode se recuperar de distúrbios se tiver chance”.
Mas o que chama a atenção é a parte final do título da matéria: “o aquecimento global pode revertê-lo”. Será que nossos esforços para reduzir o CO2 na nossa atmosfera é mesmo a resposta certa, uma vez que entre os 87 recifes pesquisados em 2022, houve um aumento médio geral de 12% na cobertura de corais em relação à 2021.
No início dos anos 2010, de acordo com diversos ambientalistas, o sistema de recifes estaria completamente extinto até 2034. Foi, sem dúvida, algo que alarmou o mundo e contribuiu, juntamente com inúmeros outros alertas ambientais, para o esforço mundial em busca da redução do impacto humano no planeta.
E a partir de então, fomos sistematicamente bombardeados por notícias trágicas ao mesmo tempo em que tivemos evoluções importantes nas legislações mundiais e uma verdadeira “caça ao gás carbônico”.
Com a iminência de um possível controle autoritário de liberdades individuais com a adoção de moedas digitais e monitoramento da pegada de carbono em escala global, precisamos debater de forma aberta e franca o que está por trás desse gigantesco iceberg, no qual o gás carbônico é apenas uma pequena parte da ponta.
A cada dia fica mais claro que, infelizmente, os discursos alarmistas do início dos anos 2010 foram utilizados apenas como ferramenta política, de marketing e greenwashing. E o mesmo padrão é repetido na demonização do CO2 como único – ou no mínimo o mais cruel – vilão para a aniquilação da Terra!
O aumento da queima de combustíveis fósseis como o carvão, o gás natural e os derivados de petróleo como a gasolina, o óleo diesel e demais óleos combustíveis, entre outros, desde a Revolução Industrial no século XVIII resultou na maior emissão de gases do efeito estufa (GEE). Analogamente, o desmatamento causado pela expansão agrícola em todo o mundo teve como principal consequência a transferência de carbono da forma sólida para a forma gasosa devido à queima da biomassa representada pela vegetação.
Os principais gases do efeito estufa são o dióxido de carbono (CO2), responsável por até 60% do efeito estufa, o metano (CH4), responsável até 20%, o óxido nitroso (N2O), que participa com cerca de 5% no efeito estufa, os clorofluorcarbonos (CFCs), responsáveis por uma faixa próxima aos 20% e, por fim, o ozônio (O3), que contribui com algo em torno de 10% para o efeito estufa. De acordo com o Protocolo de Quioto, os halogenados como hidrofluorcarbonos (HFCs), perfluorcarbonos (PFCs) e hexafluorsulfúrico (SF6) também são mencionados como GEE podendo responder em até 15% pelo efeito estufa.
Além da enorme variação percentual no efeito estufa, diferentes GEEs têm diferentes potenciais de aquecimento global (GWP). O CO2, por exemplo, apesar de contribuir 60% para o GWP, teve sua concentração aumentada em apenas 31% de 1.750 até hoje. Já o CH4, que contribui em até 20%, teve sua concentração aumentada em 151%, enquanto o N2O contribui com cerca de 5% e sua concentração aumentou em 17% no mesmo período.
Se considerarmos os potenciais de GWP no tempo e elencando o CO2 como base 1, uma vez que seu potencial de aquecimento global permanece inalterado no tempo, gases como o CH4 e N2O, por exemplo, possuem potenciais de 56 e 280, 21 e 310 e 6,5 e 170 nos horizontes de 20, 100 e 500 anos, respectivamente.
Os maiores vilões, os gases com maior potencial de aquecimento global ou GWP, são disparados os halogenados. Por exemplo, o HFC-23, gás refrigerante largamente usado em soluções aerossol, permanece na atmosfera por até 270 anos com um GWP de incríveis 14.800 no horizonte de 100 anos!
Não podemos esquecer que, se o desafio do aquecimento global e efeito estufa limitar-se ao combate do CO2 como somos levados a crer pelo discurso ambiental alarmista, bastaria plantarmos mais árvores! Afinal de contas, a fotossíntese é um processo fotoquímico natural que resulta na liberação de oxigênio para a atmosfera a partir da luz solar, água e absorção do dióxido de carbono dessa mesma atmosfera.
Convenhamos: nossos avanços no sentido de mitigar a emissão de CO2 estão longe de serem considerados um primor de trabalho, mas quando olhamos para uma estrutura tão absurdamente frágil diante do aquecimento global como são os corais e percebemos que eles não apenas não estão sendo aniquilados como estão até aumentando. E isso significa que o controle do CO2 não seja, efetivamente, a melhor resposta para termos um mundo ecologicamente mais eficiente.