Por que pneus explodem?

Por que pneus explodem?

Se você gosta de corrida de automóveis ou, sem querer, viu o GP do Azerbaijão de Fórmula 1 no último domingo, pode ter-se impressionado com as cenas dos acidentes acusados por falhas repentinas nos pneus em plena reta.

Também, pode ter ficado preocupado ou na dúvida com os comentários da transmissão brasileira e o quanto compostos de borracha podem contribuir para esse tipo de incidente e se os pneus do seu carro podem causar um susto como aqueles.

O que você deve ter sempre em mente é: composto de banda de rolamento, ou sua dureza, por si só, não faz um pneu ser mais ou menos suscetível à falhas estruturais que causarão desde a perda de pressão à explosão repentina. Os fatores que estão diretamente ligados este modo de falha são: velocidade, carga, materiais de carcaça e como eles são empregados na construção da mesma.

E isso vale para um pneu de Fórmula 1 ou para o pneu do seu carro, seja ele aro 13” ou de 22”. Inclusive, a medida dos pneus são as mesmas desde a temporada de 2017: 305/670-R13 na dianteira e 405/670-R13 na traseira, ou seja, os pneus usados nos carros com o custo do quilômetro rodado mais caro da história são de 13 polegadas!

São pneus com 305 mim e 405 mim de largura, 670 mim de diâmetro e aro 13 polegadas, com uma carcaça extremamente leve e projetada no limite das cargas, velocidades e quilometragem que serão impostas a eles, de forma que a banda de rodagem, além da aderência e durabilidade, atua também na integridade estrutural do pneu como um todo.

Um evento que marcou a história da categoria em 2005 ajuda a corroborar que não será o composto da banda de rolamento que fará um pneu falhar ou não.

Em 17 de julho daquele ano, a F1 iniciou as atividades de pista do icônico Indianápolis Motor Speedway para o GP dos EUA, quando um acidente forte de Ralph Schumacher na curva 13 foi causado por uma falha do pneu Michelin que equipava a sua Toyota, causando ferimentos sérios nas costas do piloto. Era a única curva do trajeto misto que usava o consagrado traçado oval, com um relevante ângulo de inclinação que submetia os pneus à cargas laterais muito acima que as de qualquer outra curva dos demais circuitos.

Para elevar ainda mais o nível de solicitação dos pneus, na véspera do GP a administração de Indianápolis promoveu um recapeamento asfáltico que incluiu a citada curva 13, que tornou o asfalto mais abrasivo e, por consequência, fazia os pneus gerarem mais calor pelo atrito com o pavimento.

Essa combinação de carga e temperatura além das esperadas pela Michelin obrigou, no dia seguinte, classificar os pneus fornecidos para as equipes BAR, McLaren, Red Bull, Renault, Toyota, Sauber e Williams, como inseguros até que eles pudessem determinar exatamente o que causou a falha terminal do pneu traseiro esquerdo da Toyota de Schumacher. Todos ainda se lembram do imbróglio político quer-se sucedeu a isso, resultando no GP de seis carros, vencido por Michael Schumacher da Ferrari.

Entre este episódio de 2005 e a corrida de domingo, houveram outras falhas que afetaram diretamente o resultado de corridas na categoria, como foi o caso de Valtteri Bottas na edição de 2018 do mesmo GP do Azerbaijão.

Também não eram raras a imagem impressionante dos pneus dianteiros vibrando como gelatina no meio das retas de Monza, como resultado da velocidade muito  proxima aquela denominada terminal, definida por design, desses pneus.

Portanto, o que a Fórmula 1 nos mostra é que, de fato, carga, temperatura e velocidade são as maiores vilãs de um pneu. E a mesma coisa vale para os pneus do seu carro!

É por isso que todo pneu possui seus índices de carga e velocidade estampados na lateral. Usá-los com cargas e nas velocidades acima daquelas relacionadas aos respectivos índices fará com que tenhamos um aumento de temperatura na região dos ombros e/ou do talão dos pneus, causando a separação das lonas da carcaça ou dos componentes internos do pneu, o que resultará na redução da integridade física do pneu e sua consequente falha.

Não significa que podemos cravar que uma falha de design ou uma redução da integridade física dos pneus Pirelli resultaram nos acidentes de Lance Stroll e Max Verstappen, pois somente após análise das carcaças (ou do que restou delas) é que o fabricante de pneus tem condições de emitir um laudo preciso do que aconteceu, inclusive se o colapso se deu por ação de agente externo (furo do pneu causado por detrito, por exemplo).

E, por isso, que você deve sempre manter os pneus do seu carro corretamente calibrados e a suspensão alinhada de acordo com os parâmetros do fabricante.

O pneu, e seu anjo da guarda, agradecem!

Carlos Barcha é especialista em pneus com 20 anos de experiência no setor automotivo, fundador e CEO da The Consulting Business Solutions. As opiniões e informações aqui expressas são pessoais e não refletem necessariamente o posicionamento destas empresas.

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