EXCLUSIVO: Revulkan espera revolucionar a indústria de pneumáticos com tecnologia inédita que reutiliza a borracha de pneus pós-consumo
O 54 PSI conversou com exclusividade com Bernardo Alvarez, inventor e CTO da Revulkan, desenvolvedora da revolucionária banda de rodagem feita a partir de borracha de pneus pós consumo.
Inédita, essa tecnologia patenteada 100% nacional comprova na prática que é sim possível inserir o resíduo de borracha na economia circular e pode revolucionar a indústria de pneumáticos. Saiba como surgiu a ideia e quais os planos da Revulkan:
Como surgiu a ideia de desenvolver a primeira banda de rodagem feita a partir de borracha de pneus pós-consumo?
Bernardo Alvarez: Na verdade, a ideia surgiu dentro de uma indústria calçadista, a Spikes calçados em Jaú, interior de São Paulo. Em um determinado momento a Spikes começou a comprar placas de EVA para fazer chinelos, palmilhas, entre outros produtos. O problema é que uma placa gera em torno de 20 a 30% de retalho, que para darmos finalidade adequada tinha um custo alto. Começamos, então, a pesquisar o que fazer para darmos uma finalidade mais nobre ou mais economicamente eficiente. Desenvolvemos a tecnologia, fizemos um levantamento bibliográfico, uma análise do estado da arte, propusemos uma alternativa teórica, montamos uma estrutura laboratorial. No momento do teste obtivemos um resultado surpreendente na desreticulação do resíduo de EVA. Foi então que veio o estalo: “Se fizemos nas placas de EVA, será que dá para fazer em pneu?”. Foi daí que começamos.
É possível estimar a quantidade desse material hoje produzido pela indústria e quanto é reaproveitado – ou não?
Bernardo Alvarez: A Anip, faz anualmente esse levantamento:
Total de pneus novos fabricados, importados, enviados às montadoras e exportados (2020).
A meta e o saldo de destinação anual.
Ou seja, 98,55% da meta foram corretamente destinados. Os 1,45% ainda representam aproximadamente 7 mil toneladas de pneus.
Outra questão importante, é a destinação, uma vez que a maior parte deste resíduo é para ser queimado em fornos de cimenteiras. Porém este resíduo nunca retorna a fonte, ou seja, ele não entra no conceito de economia circular.
Qual foi o tempo dedicado ao seu desenvolvimento?
Bernardo Alvarez: O projeto propriamente dito teve início em 2018. Foi investido um grande tempo no estudo teórico, onde fontes bibliográficas foram levantadas, bem como realizado um extenso estudo do estado da arte. Pesquisamos as alternativas comerciais existentes, seus pontos fortes e fracos e como elas se inseriam no mercado de pneumáticos. Na sequência, postularmos uma teoria e um processo para a desvulcanização e iniciamos os trabalhos de banca. Por volta de meados de 2020, iniciamos produções piloto e testes industriais e, finalmente, em 2022 fizemos nossas primeiras bandas de rodagem e montamos os pneus que estão em testes de campo, rodando em caminhões que são supervisionados a cada 1.000Km.
No que consiste exatamente essa tecnologia totalmente desenvolvida e patenteada no Brasil?
Bernardo Alvarez: A tecnologia consiste na reciclagem química de elastômeros. Como explicamos anteriormente, um vasto estudo foi feito no início e, para nosso espanto, existe muito material técnico e patentes sobre o assunto, o que me fez questionar porque efetivamente não temos soluções contundentes. A questão é que as atuais tecnologias até então propostas durante a desvulcanização, ou seja, a quebra das ligações carbono-enxofre e enxofre-enxofre, também degradam a estrutura da matriz polimérica. Dessa forma propriedades importantes são comprometidas, além de o fato de algumas moléculas utilizadas como agentes desvulcanizantes atribuírem um odor característicos.
Qual o “pulo do gato” dessa inovação? No que ela se difere das opções similares do mercado? Ou não há nada igual?
Bernardo Alvarez: A tecnologia Revulkan tem como “pulo do gato” a capacidade de desvulcanizar a borracha sem emprego de temperatura e pressão. O processo ocorre em condições ambiente, sem cisalhamento mecânico e o agente desvulcanizante atua seletivamente nas ligações S-S e C-S e é recuperado ao fim do processo. Essas características tecnológicas diferem a tecnologia Revulkan das demais tornando-a, realmente, disruptiva. A tecnologia que apresentamos não entrega ao mercado uma borracha reciclada e sim uma nova borracha, com características únicas, capaz de gerar artigos elastoméricos de alta performance – como bandas de rodagem, por exemplo – podendo assim substituir ate 100% de borrachas de origem petroquímica em certas formulações.
A questão da sustentabilidade é muito importante para o setor de pneumáticos não só no Brasil, mas em todo o mundo. Que benefícios essa nova tecnologia trará para a indústria?
Bernardo Alvarez: A tecnologia Revulkan, traz consigo grandes possibilidades para a indústria. As pneumáticas, em particular, têm metas de sustentabilidade e prazos curtos para as atingir. Estudos apontam que a borracha desvulcanizada pela tecnologia Revulkan substitui até 100% de borrachas de fontes petroquímicas. É importante salientar que a tecnologia Revulkan traz para o mercado uma “nova borracha” ao trabalharmos a formulação dos compostos. Resultados surpreendentes foram alcançados. Foi possível produzir bandas de rodagem que já estão em testes em caminhões. As bandas provenientes da tecnologia Revulkan apresentam propriedades similares às de bandas de rodagem comerciais. Ao associarmos a tecnologia REVULKAN a outras propostas de sustentabilidade para a indústria pneumática (sílica, negros de fumo e óleos de origem sustentável e outros) é possível produzir bandas de rodagem até 100% sustentáveis. Sem contar a redução de carbono que a tecnologia impactará ao reduzir a logística de recuperação dos pneus inservíveis. A tecnologia até o momento está sendo aplicada a bandas de rodagem. Porém, já se estuda a viabilidade para que seja aplicada a toda estrutura de um pneu.
Qual a importância desta patente? Qual foi a participação do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) no projeto?
Bernardo Alvarez: A patente tem uma importância soberana. É o Brasil gerando divisas e exportando tecnologia. Gostamos de imaginar que há aproximadamente 183 anos Charles Goodyear escreveu um capítulo na história. Hoje, um novo capítulo está sendo escrito por nós, com o Brasil na vanguarda. O MCTI, esteve em conversa conosco desde o início, nos orientando sobre proteção industrial e jurídica da tecnologia.
Vocês participaram de algum programa de incentivo ou de aceleração?
Bernardo Alvarez: O projeto até o momento foi todo custeado por nós. Investimos nossos recursos, tempo e conhecimento.
Após a apresentação desta tecnologia e obtenção da patente, quais os planos para o futuro?
Bernardo Alvarez: A patente já foi deferida em âmbito nacional. Aguardamos agora avaliação do depósito internacional que já está bem encaminhado. O futuro que já vislumbramos é a mudança. A tecnologia Revulkan traz novas possibilidades para o mercado mundial e comprova que é possível inserir o resíduo de borracha na economia circular. Nosso plano para o futuro é continuar desenvolvendo soluções para reduzir carbono, desenvolver materiais de alta tecnologia e sustentabilidade para sempre melhorar a qualidade de vida das próximas gerações.
Parabéns pela grandiosa iniciativa a FIGUEIREDO fica orgulhosa desse grande projeto, que esteja o mais breve possível no mercado🦅