Caminhão elétrico no Brasil será uma opção?
Por Carlos Barcha*
Depois de Elon Musk afirmar que 2023 será um ano-chave para a Tesla e vir ao Brasil para, entre Amazônia e Starlink, supostamente garantir nióbio e grafeno para bancar sua farra 220V de forma mais eficiente, a empresa divulgou os preços de venda do Semi, seu caminhão elétrico, que finalmente entrará em produção no ano que vem.
Será que podemos apostar na entrada do setor de transporte rodoviário brasileiro no universo elétrico?
De acordo com a montadora americana, o Semi será alimentado por quatro motores independentes nos eixos traseiros, fará de 0 a 100 km/h em 20 segundos, possui carga útil de 36 toneladas e terá uma autonomia de bateria de 800 km, equivalente a 40% da distância entre Sorriso, o município com maior produção de soja no Brasil, e o porto de Santos.
Ainda de acordo com o comunicado da Tesla, o Semi será vendido na terra do Tio Sam a partir de US$ 150 mil, o que equivaleria a cerca de R$ 745 mil.
Para efeito de comparação, um caminhão Scania da versão R zero quilômetro tem um preço médio de R$ 850 mil, mesma faixa para o Volvo FH-540. Já um Peterbilt modelo 579 2022 é encontrado nos EUA por US$ 160 mil, enquanto o modelo 567 de mesmo ano gira em torno de US$ 185 mil.
Já o preço do Volvo FH-540 é de cerca de US$ 230 mil em solo americano, algo na casa do milhão de reais em conversão direta. Apesar da quantidade de zeros, do ponto de vista financeiro, tanto nos EUA como no Brasil, o Semi pode ser sim uma opção!
Visto os valores macro, vamos agora analisar a questão de autonomia.
O Scania R 540 recebeu o prêmio europeu Green Truck 2020 ao fazer, em um trajeto pré-estabelecido, média de 3,97 km/l (25,14 litros a cada 100 km), com velocidade média de 80,42 km/h e emissões de CO² de 798 gramas por quilômetro. Com tanques de combustível que, somados, permitem um volume de 700 litros, chegamos a uma autonomia de quase 2.800 quilômetros, mais de 3x a autonomia declarada do Tesla Semi.
De forma simplista e genérica, para caminhões elétricos chegamos à mesma conclusão que temos para veículos de passeio nesta tecnologia.
Por mais que o valor final seja equivalente aos modelos movidos a combustão, a autonomia impõe uma necessidade de investimentos em infraestrutura, além de uma mudança radical na mentalidade do usuário e, ainda mais importante, demanda uma discussão urgente sobre matriz energética, o impacto ambiental para se produzir eletricidade e como será gerenciado o descarte e reciclagem das baterias usadas antes de considerarmos a mobilidade elétrica viável e sustentável para o setor de mobilidade no Brasil.
* Carlos Barcha é especialista em pneus com mais de 20 anos de experiência no setor automotivo e criador do Método Barcha