Esqueci de calibrar os pneus! E agora?
Cada vez mais somos bombardeados com reportagens e artigos citando a importância de se manter os pneus do seu carro corretamente calibrados. Com a chegada da temporada de viagens de final de ano, a tendência é vermos este tema ainda mais na moda.
Sabia que uma das pouquíssimas semelhanças entre um Fusca 1966 e um Tesla de última geração é que o único elo com o solo se dá através dos pneus? Logo, tê-los nas melhores condições possíveis de conservação e utilização pode ser a diferença entre um pequeno susto e um acidente grave.
Imagine que o carro que você usa o ano todo para ir e voltar do trabalho, sozinho, será um dos protagonistas daquela sonhada viagem de férias com a família. Todos no carro, porta-malas lotado, tanque cheio e, no meio da estrada, você lembra que não calibrou os pneus. E agora?
Durante o uso, os pneus, e consequentemente o ar dentro deles, aquecem e, por este motivo, devemos calibrar os pneus sempre antes de rodar com eles. Mas e quando não fazemos isso, o que acontece?
Do conhecido ponto de vista econômico, você vai gastar mais combustível por conta da maior dissipação de energia causada pela má distribuição de pressão ao longo da área de contato do pneu com o solo. Deixando a Física e a Mecânica de lado e de forma simplista, quanto maior a carga aplicada no pneu, maior tem que ser a pressão de inflação para que ele mantenha suas características de performance praticamente inalteradas.
A recorrência deste esquecimento, tanto para aumentar a pressão como diminui-la quando necessário, vai causar o desgaste excessivo e irregular dos pneus, diminuindo sua vida útil. Em média, 3 PSI de diferença na pressão de inflação de um pneu corresponde a um impacto de cerca de 10% no consumo de combustível e de 5% na vida útil dos pneus.
Já do ponto de vista da segurança, um pneu com a pressão de inflação menor que a indicada para o carro totalmente carregado afetará a dirigibilidade de modo que o carro ficará mais ou menos instável em determinadas manobras. No caso de estar com uma pressão acima do especificado, o carro tende a responder aos comandos do volante de forma mais rápida e incisiva.
Estas mudanças de comportamento precisam ser entendidas e antecipadas porque têm diferentes intensidades de acordo com o veículo. O condutor deve adotar uma direção ainda mais segura, reduzindo a velocidade e redobrando a atenção, até encontrar o primeiro posto para ajustar a pressão dos pneus.
Assim que perceber que se esqueceu de calibrar os pneus, procure o primeiro posto e faça uma parada. Para que os pneus voltem à temperatura ambiente, portanto, uma parada entre 60 e 90 minutos seria o ideal. Caso uma parada longa não seja possível, ainda assim pare o quanto antes e considere o tipo de asfalto no qual está rodando, se é mais ou menos abrasivo, e o clima, se está frio, calor ou muito calor.
O resultado desta análise vai dizer se você deve somar de 2 a 4 PSI à pressão de inflação recomendada pelo fabricante do veículo para seguir viagem de forma tranquila e mais segura.
Atenção! Este artigo tem o intuito de instrui-lo de como agir diante de uma situação comum e as dicas acima partem do pressuposto que você está com seu pneu corretamente calibrado para a condição vazia e esqueceu de ajustar essa pressão para a condição de viagem com o carro totalmente carregado.
Pressões muito abaixo da recomendada para a condição de uso do veículo, aumentam drasticamente tanto o risco de estouro, por choques contra buracos e temperaturas muito acima do normal nos ombros do pneu, como a perda de estabilidade do veículo e risco de do pneu sair da roda.
Lembre-se sempre que não importa se o seu carro tem airbags, ABS, barras laterais, ESP ou qualquer outro elemento de segurança ativa ou passiva. Se o pneu falhar, você e sua família estarão em sérios apuros.
Portanto, segurança sempre em primeiro lugar, mantenha seu carro sempre em dia com a manutenção e boa viagem!
Carlos Barcha é especialista em pneus com 20 anos de experiência no setor automotivo, fundador e CEO da The Consulting Business Solutions e, também, Gerente Técnico da Michelin América do Sul. As opiniões e informações aqui expressas são pessoais e não refletem necessariamente o posicionamento destas empresas