Mais um empurrãozinho da legislação
Por Carlos Barcha*
A União Europeia divulgou em 10 de novembro um documento com as propostas do que poderá vir a se tornar a nova legislação Euro7, que visa reduzir ainda mais as emissões de poluentes pelos veículos, além de melhorar a qualidade do ar.
O documento visa alinhar as novas exigências regulamentares com o ambicioso Acordo Verde Europeu, que visa atingir as emissões líquidas zero de gases do efeito estufa até 2050.
A nova Euro7 deverá garantir que carros, vans, caminhões e ônibus tenham desempenho muito mais “limpo” em condições reais de condução e que reflitam melhor a situação nas cidades. A proposta aborda as emissões dos escapamentos, bem como dos freios e pneus.
Será a primeira norma no mundo a ir além da regulação das emissões de tubos de escape e estabelecer limites adicionais para as emissões de partículas dos freios e regras sobre as emissões micro plásticas dos pneus. Essas regras serão aplicadas a todos os veículos, incluindo os elétricos.
Como o mundo está se movendo a passos largos para uma frota 100% elétrica, as emissões de escapamento de veículos elétricos são zero e os legisladores já estão mudando o foco para outras fontes de emissão, como partículas de pneus e freios.
Isso muda radicalmente o jogo, uma vez que sai de cena o “gCO2/km”, métrica que dominou a indústria automotiva nos últimos 20 anos, para a entrada de um novo número que promete influenciar radicalmente a indústria de pneus: gramas por mil quilômetros, ou “g/1000km”.
Essa mudança de mindset promete repetir o barulho que se deu quando os compostos de qualquer pneu deveriam ser livres de óleos aromáticos, no início dos anos 2000.
Agora os pneus simplesmente não poderão se desgastar, ou terem seus compostos de rodagem produzidos a partir de materiais sustentáveis e/ou biodegradáveis. E não é só isso: espera-se uma revolução nos métodos de ensaios regulamentares, nos desenhos das bandas de rodagem e nas profundidades dos sulcos, tamanho das partículas que serão lançadas no meio ambiente e seus impactos tanto no meio ambiente como na saúde humana, rugosidade das diversas superfícies das estradas e até no estilo de condução, que impactará sensivelmente os veículos autonomos.
Em 2035, o Euro7 reduzirá as emissões totais de NOx de carros e vans em 35% em comparação com a Euro6, e em 56% em comparação com o Euro VI de ônibus e caminhões.
Ao mesmo tempo, as partículas do escapamento serão reduzidas em 13% de carros e vans, e 39% de ônibus e caminhões, enquanto as partículas dos freios de um carro serão reduzidas em 27%.
Após o escândalo do Dieselgate, a Comissão Europeia introduziu novos testes para medir as emissões em condições mais próximas possíveis às reais, a fim de garantir que os veículos sejam tão limpos quanto o esperado pela norma.
Fabricantes como a Continental deram a largada nesta nova corrida sustentável ainda em 2017, ao apresentar um pneu produzido a partir da planta conhecida como “dente-de-leão”.
Outros, como a Goodyear, apresentaram recentemente modelos que utilizam uma gama de materiais sustentáveis no composto da banda de rodagem, como a casca de arroz, e promete durar inacreditáveis 500 mil quilômetros.
Gigantes como Michelin, Bridgestone e Pirelli também estão trabalhando arduamente para desenvolver o tão cobiçado pneu reciclado e reciclável, agora mais necessário do que nunca!
* Carlos Barcha é especialista em pneus com mais de 20 anos de experiência no setor automotivo e criador do Método Barcha